05 fevereiro 2010



O jornalista Tiago Leifert, VJ do Globo Esporte (Foto: Bob Paulino/TV Globo)

No começo deste ano, a Globo fez uma aposta arriscada. Na tentativa de conquistar a garotada que domina o controle remoto na hora do almoço (e que muitas vezes preferia assistir à enésima reprise de Chaves), investiu em um jovem repórter, aparentemente tímido, quase um nerd sem óculos, para apresentar o Globo Esporte paulista.

Além de trocar o experiente Tino Marcos pelo inexperiente Tiago Leifert, a Globo eliminou o teleprompter, aparelho que projeta o texto que o apresentador lê olhando para a câmera, e não economizou em entradas ao vivo de repórteres espalhados pelos principais clubes do Estado.

Nos primeiros dias, foi uma festa. Para a concorrência. O Globo Esporteera um show de erros. Para alguns, Leifert só estava ali por ser filho de um poderoso diretor da emissora.

Mas aos poucos Leifert, também editor-chefe do Globo Esporte de São Paulo, foi acertando a mão. Hoje, as entradas ao vivo (que davam errado) rarearam. O que se sobressai são as tiradas de humor do programa, ancorado em pseudo-improviso trash e no uso de uma linguagem de edição que aproxima a Globo da MTV e do Pânico na TV. Leifert parece um VJ cômico, é quase um Marcos Mion.

O Globo Esporte usa e abusa da informalidade ao se referir a técnicos e jogadores. As reportagens são cobertas por músicas. A edição muitas vezes lembra a de videoclipes, com cortes rápidos, ou a do Pânico, com a inserção de imagens de arquivo, para ilustrar, com fins meramente humorísticos, alguma citação ou situação.

Nessa busca pela audiência jovem, o Globo Esporte criou um personagem “real”, como o Pânico fez com Zina. Ex-jogador do Oeste e até dezembro no Guarani, Nei Paraíba aparece no programa quase todos os dias. No Campeonato Paulista, sua “beleza singular” serviu de inspiração para a eleição do jogador mais belo da competição. O objetivo, obviamente, era o contrário.

Nei Paraíba foi tema de inúmeras reportagens. Principalmente fora dos campos. Descobriram que ele vai se casar. Foram até sua terra Natal, na Paraíba, entrevistar a “felizarda” da noiva. Ontem, Nei compareceu ao estúdio do Globo Esporte. O programa o mostrou chegando à emissora, como se fosse um grande popstar. “Que emoção!”, suspirava Leifert, irônico. No estúdio, providenciaram um cercadinho para pseudotietes do atacante, que Leifert chama de “Sua Divindade” e “O Deus do Amor”.

Mas não foi por causa da gozação em cima de Nei Paraíba que Tiago Leifert virou assunto nesta semana. Na terça, para driblar a falta de notícias esportivas, ele simplesmente encerrou o programa com um funk. Teve gente que não gostou, que achou de mau gosto. Especularam que a cúpula da Globo teria reprovado, que Leifert seria demitido. Bobabem. Na era da internet, em que a reprise de um gol não tem mais sentido no dia seguinte ao jogo (não é à toa que o programa edita videocassetadas das rodadas), Leifert simplesmente está cumprindo a missão de atrair o jovem com uma linguagem que o jovem entende.

Os números do Ibope mostram que a estratégia está dando certo. Desde 2003, o Globo Esporte vinha em queda livre nos gráficos de audiência. De 15 pontos em 2002, bateu em 10,5 em 2008. Neste ano, a tendência de baixa reverteu. Até anteontem, sua média acumulada era de 11,2 pontos.

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